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Marcelo D2 e BK’ reúnem música, cultura e política no Rio de Janeiro


Os artistas se apresentaram separadamente no palco do Km de Vantagens Hall, e vibraram o público com faixas de temas atuais. Saiba tudo que rolou!

Sabe-se que o rap é um gênero musical que conversa com diversas vertentes – dentre elas, a política. Em tempos conflituosos no Brasil, a ascensão deste estilo trouxe encontro de reflexões, cultura e de gerações. Foi o caso neste sábado (8), no palco do Km de Vantagens Hall, no Rio, onde os rappers BK’ e Marcelo D2 fizeram apresentações não só musicais, mas também de cunho social.

A noite começou com BK’, que apresentou os repertórios dos álbuns ‘Castelos e Ruínas’, de 2016, e “Gigantes”, de 2018. Abebe Bikila – seu nome de batismo,  homenagem ao maratonista etíope homônimo – é uma das figuras mais consagradas do rap brasileiro na atualidade, com atuação em projetos dedicados ao gênero, como o selo musical Pirâmide Perdida, o grupo Nectar Gang e o coletivo Bloco 7.

Em pouco mais de uma hora de show, o rapper mostrou sua vistosa atuação no meio com a maior parte do setlist dedicada ao seu segundo e mais recente disco. “Exóticos”, “Julius” e “Correria” foram algumas das faixas apresentadas, que mesclaram com obras de seu primeiro álbum, como “Quadros” e “Caminhos”. E o público correspondeu à vibe esperada e aos pedidos do artista, seja com isqueiros e lanternas de celulares ligados na primeira parte de “Titãs”, seja com uma ‘roda punk’ (temos a licença poética de alterar o nome para ‘roda rap’?) em “Top Boys”.

Um painel colorido, com animações que remetiam a graffitis, complementaram a apresentação, que contou com o backing vocal de JXNV$ e Juyè, parceiros de BK’ no Pirâmide. O show também recebeu participações de Luccas Carlos – em “Planos” e “O Que Quiser Fazer”, esta última do próprio Luccas – e de CHS, que ajudou a fechar a noite com “KGL”, faixa do Nectar Gang, o qual também integra.

Com letras políticas por si só, BK’ não falou muito a respeito durante os intervalos entre as músicas. Mas, ao fim de “Caminhos”, ouviu-se do palco um lembrete às minorias: “Nossa luta é diária. Sempre”. Vale mencionar também que, toda vez que o rapper virava de lado ou de costas ao público, a parte de trás de sua jaqueta reunia os dizeres “This is just art” – uma metáfora interessante para explicar o que é, de fato, todo o conjunto da obra.

Aproximadamente meia hora depois, o palco estava repleto de tulipas de tecido – prestes a começar o show de Marcelo D2, que entrou acompanhado de seu filho, Sain. A apresentação do veterano teve início com “Alto da Colina”, fruto de seu mais recente trabalho, “Amar é Para os Fortes”, que também contou com faixas ao vivo como a homônima, “Febre do Rato” – que rolou duas vezes, sendo uma delas para o público cantar na roda – e “Resistência Cultural” – esta última levou o público a xingar o presidente Jair Bolsonaro.

No setlist, as músicas do novo álbum de D2 equilibraram com sucessos antigos, como “Você Diz Que o Amor não Dói”, “Desabafo”, “À Procura da Batida Perfeita”, “Pode Acreditar” e “Qual É” – esta a penúltima faixa da noite, que levou o artista a comentar sobre o Flamengo, seu time de coração, e o Fla-Flu que rolou no domingo seguinte, empatado em zero a zero.

A recepção do público, em todas as faixas, foi sempre calorosa. Diferentemente de alguns outros shows, em que é clara uma certa hierarquia entre artista e fã, aqui foi diferente – D2 e o público se tratam como parceiros, que poderiam muito bem discutir, em uma mesa de bar, por exemplo, sobre assuntos que vão desde política, passando pelo abismo social brasileiro, até à complexidade da vida; alguns dos temas presentes nas letras do músico.

Aliás, como já se sabe, o hip hop de D2 se encaixa perfeitamente com o samba e com instrumentos como o saxofone e o teclado, presentes na afinada banda que acompanha o artista multifacetado. No palco, além das tulipas, luzes azuis, vermelhas e amarelas de led completaram a apresentação, que também exibiu vídeos promocionais de “Amar é Para os Fortes” nos painéis.

Infelizmente, não rolou um mash up entre D2 e BK’ no palco. Mas isso é o de menos – foi uma noite para celebrar a cultura, a periferia e o ato político de se fazer música no Brasil. Felizmente, o rap, o hip hop e suas vertentes continuam vivos e mais fortes do que nunca – e com célebres representantes.

Por Luciana Lino


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