zoom

Jay Vaquer lança novo trabalho, “Canções de Exílio”, e fala sobre sua vida e obra


“Estou superfeliz, empolgado, seguindo em frente e fazendo o melhor que eu posso, sempre. Com muita verdade, com muito respeito.”_ Jay Vaquer

Jay Vaquer é filho da alquimia, nasceu com nome “gringo” e passaporte de americano do norte. Sua mãe a brasileira Jane Duboc, é da linhagem das maiores cantoras do país; seu pai o americano Jay Vaquer sênior, foi guitarrista e produtor de discos do lendário Raul Seixas, que Jay chamava de tio; sua tia Glória, irmã de seu pai, era também mulher de Raul. Em meio a essa vitaminada mistura panamericana na mamadeira, e que inclui todo tipo de referências do Jazz, MPB, Pop, Blues, Rock, do instrumental e de valores e conceitos da contracultura e boa dose de não conformismo, foi do que o menino se alimentou. Ele estudou teatro, pisou nos palcos com o musical “Cazas de Cazuza”, mais ou menos na mesma época em que se lançou como cantor. Seus discos e clipes desde os primeiros trabalhos, o mostraram como um artista denso, intenso, visual e pouco preocupado em caber na fórmula comercial de fácil consumo. Assim Jay optou pela desconfortável zona da contramão do óbvio e sua “voz do pop”, como queriam definir seu trabalho no início, deu voz a uma enxurrada de letras repletas de códigos, indagações, um punhado de provocações e alguns dedos em feridas da sociedade. Sua voz é das mais belas da cena musical de sua geração mas diferentemente da maioria dos interpretes quase sempre pautados pelo mercado, Jay resolveu colocá-la a serviço de seu cérebro inquieto, de suas muitas imagens, visões e metáforas.

Seu novo trabalho Canções do Exílio chega aos fãs que, carinhosamente, é chamada de “mundiça” pelo cantor, que conta com verdadeira legião de seguidores fiéis que o acompanham justamente por não aceitarem um cantor fofinho, certinho, formatável. O show do novo trabalho acontecerá no Vivo Rio, dia 22 de julho, no Rio de Janeiro.

Acompanho há um tempo a missão desse artista e troco abaixo uma ideia sobre o novo momento.

Onde é o exílio da sua mente? Que exílio é esse? É um lugar onde você se retirou ou é um lugar onde te impuseram estar?

Jay – Caramba! Que pergunta difícil, Horace! Seria um exílio voluntário. Acho que está nos prazeres que eu tenho na vida, tá no sorriso do meu filho. Ali está tudo certo! Quando eu vou pra lá as coisas todas ficam bonitas e no lugar, tudo faz pleno sentido. Acho que é isso: quando eu vou pro sorriso do meu filho, eu tô muito bem! Mas aí é um exílio voluntário, eu vou pra lá e fico, de lá, numa boa. Confortável.

Agora tem o exílio que é o exílio imposto, né?! O exílio que você não quer ir e você vai. Esse eu não deixo muito espaço na minha mente não. Minha mente ao invés de ficar exilada, ela vai à luta, vai à guerra. Ela não para, batalha! Tem sido assim, né?! Você sabe bem disso.

Imagino que depois de tantos trabalhos, que você vem fazendo, esse auto-exílio é quase intencional. Imagino que você teria oportunidade, meios e recursos de falar a mesma coisa de uma outra maneira que se encaixasse. Há um conforto em não se encaixar?

Jay  –  Eu me sinto – apesar desse nome americanizado, ser filho de americano e ter o passaporte americano – e sou muito daqui! Sou muito carioca, muito brasileiro. Eu adoro esse país, adoro viajar pelo Brasil, a trabalho ou a passeio. Adoro ir fazer show em Belém, ou em Porto Alegre, Fortaleza, Recife, Natal. Sou muito apaixonado pela nossa cultura rica e pela língua portuguesa. Eu sou muito daqui! E a partir do Rio, a partir do olhar daqui pra fora, é que eu enxergo. E o meu trabalho é o retrato dessa visão, desse filtro que se dá a partir do Rio, a partir do Brasil. Eu sou muito produto do Brasil, eu sou muito brasileiro. São as coisas que eu observo, que me cercam no dia a dia, que me provocam, me instigam, me estimulam, me deixam indignado, revoltado, ou me deixam emocionado, as belezas, as coisas bonitas, as características de um povo que sofre, mas que é generoso. Me sinto muito daqui! Então, eu realizo um trabalho que só pode ser muito daqui! O meu trabalho só pode ser desse jeito, porque eu não consigo conceber uma outra maneira de me expressar que não seja 100% verdadeira e honesta, onde eu possa vestir a camisa confortável e dizer “Sim, esse é meu trabalho!”.

Quando eu faço isso e eu vou pro mercado; o mercado muitas vezes me enxerga como um ovni. Eu vou pra rádio adulta com esse trabalho, aí falam ‘Mas tem muita guitarra, tem muito barulho. Esse não é o nosso perfil.’ Aí eu vou pra rádio jovem e eles dizem ‘Mas essa letra tem muito conteúdo, é muito sofisticado, rebuscado, hermético. Isso também não cabe aqui não!’. Então eu acabo não cabendo e o mercado acaba repelindo um pouco um trabalho com características como o meu. Mas o trabalho tem que ser o meu! E eu tenho uma base de fãs que justifica a existência dele e que é a gasolina para que eu vá em frente. Mas são canções de um balaio com características que acabam me colocando nesse exílio que é domiciliar porque é minha casa, aqui. Eu estou em casa, mas estou exilado do mercado, estou à margem do mercado de uma forma que, obviamente, não é voluntária, né?! E o exílio é o lugar onde habita o exilado, então é isso. Vem daí!

Eu preciso ser 100% eu mesmo. E ao ser eu mesmo, as características que eu carrego são essas. Então é inevitável! Eu não conseguiria forjar uma outra coisa, para caber. Também, essa coisa de caber e não caber eu acho muito relativo, tem músicas ali que tocariam na rádio, sim! Como tocou “Cotidiano De Um Casal Feliz”, poderiam tocar “Quantos Tantos” e “Boneco de Vodu”, perfeitamente.

A questão não é o que eu faço e como eu faço, também tem as regras do jogo com investidores que preferem investir no que, certamente, vai ter um retorno muito maior, mais popular. Inclusive o Mauro Ferreira falou sobre isso, em uma matéria que trazia a Amy Winehouse com o lance dos covers, Michael Jackson e tal. Ele falava que a MPB perdeu o link com o grande público e que as pessoas não tem mais paciência para músicas inéditas. Cara, eu vou seguir fazendo música inédita e fazendo o que eu acho que eu tenho que fazer, do jeito que eu posso ser. O jeito que eu entrego um trabalho não é um jeito calculado ou arquitetado! É um jeito espontâneo, que é o que eu sou. É aquilo que eu faço! E o que eu faço, hoje em dia, me impinge essa situação um pouco à margem. Mas, paciência! Ainda assim, eu sobrevivo e lanço um CD no Vivo Rio, entendeu?!  Vambora! Não é simples, não é fácil, é muita batalha, é muita luta, mas é o que precisa ser. Não tem glamour, não tem moleza, mas tem muita verdade. Eu acredito no que eu faço e tenho o respaldo de muita gente que também acredita e que gosta. Entende?! Tem gente que dá um valor incrível ao trabalho realizado e isso me motiva, me estimula.

Se a sua obra registrada fosse uma coleção de livros de história, ou fábulas, que história seria essa?

Jay – Eu prefiro que os outros me digam isso quando a minha obra parar, deixar de existir. E isso só vai acontecer quando eu morrer e espero que demore bastante! (risos). Eu ainda acho que estou antes da metade da obra. Eu tenho muito ainda o que dizer, o que gravar e pretendo fazer muita coisa ainda. Não só com CDs e DVDs, mas também com musicais, com os textos. Pretendo ainda deixar muita coisa por aí e no final alguém vai dizer o que foi isso, qual foi a relevância, a importância, e etc. Vou deixar isso pros outros! Por enquanto, o que eu digo é que é uma obra em andamento, em progresso, com muita verdade, com muita entrega, com muito respeito pelo ofício, pelas pessoas e por mim. É uma obra muito original, autêntica e verdadeira pra caramba. Que não mede esforços para entregar o melhor possível, sempre. Mas que tá pela metade! Quando eu terminar, aí alguém me conta o que foi isso. E eu vou estar em algum lugar, ouvindo e feliz da vida. Porque eu sei que vou olhar pra trás e falar ‘Po! Fiz realmente o melhor que eu pude e tudo que eu quis fazer’.

No seu primeiro disco tinha no encarte um billboard, se não me engano, da Times Square, que se lia “Protect me from what I want”. Você ainda se sente protegido do que quer? Afinal de contas, o que você quer que você precisa ser protegido? Ou isso já perdeu qualquer sentido?

Jay –  Não! Se você olhar o encarte tem lá, “Protect me from what I want” e tá em todos os CDs. Todos os CDs que eu lancei até aqui, se for olhar o encarte você vai encontrar “Protect me from what I want”, desde “Nem Tão São”. A pessoa que consome o que eu faço, minha obra, meu trabalho, está me protegendo do que eu quero. E o que eu quero? Quero expressar a minha arte, quero mostrar meu trabalho, quero seguir em frente. E o combustível para isso é o interesse das pessoas. Sem esse respaldo nada tem muito sentido, mais fácil eu ficar com um violão dentro de casa e não botar o trabalho na rua. Então, na medida em que a pessoa escuta, consome e gosta, automaticamente, ela “protect me from what I want”. Que é viver do que eu amo, da minha paixão, da minha missão de vida que é produzir, gravar, compor, expressar minhas idéias através da arte que eu manifesto. E quem consome e identifica naquilo algum interesse, em algum nível, me protege. Essa pessoa justifica a própria existência do trabalho.

Pra fechar: Como é que você entende esse momento e esse trabalho? E o show, como traduz esse trabalho ao vivo?

Jay – É um retrato do momento, como se fosse uma foto. Eu olho pra trás, pro “Nem Tão São”, que é um disco de 16 anos atrás, e é uma fotografia que mostra o melhor que eu pude fazer naquele momento: o mais honesto, o mais sincero. E há coerência com o que eu fiz agora. Claro que quando você olha pra trás, uma foto antiga de 2005 ou 2000, você fala: ‘Oh, que maneiro! Que saudade! Que roupa é essa que eu usava? Olha esse cabelinho, que coisa…’.

Enfim, mas o interessante é você ter consciência (e eu tenho) de que a cada foto dessa, cada CD, eu fiz realmente o que eu tava afim de fazer. Eu fiz o melhor que pude fazer, buscando as melhores pessoas que estavam ao alcance. Então esse é mais um registro e tem essa mesma característica. É uma foto que daqui a 16 anos eu vou olhar pra trás e falar ‘Ah, em 2016 era aquilo que eu precisava expressar, daquela maneira, com aquelas pessoas’. É isso! Ser honesto, ser verdadeiro e buscar respeito pelo ofício, pelos outros e por mim. É mais uma foto! O show: são 5 músicos incríveis, num lugar incrível. Vai ter abertura da Playmobile, que acabou de sair do Superstar, e vai ser bacana também! Estou superfeliz, empolgado, seguindo em frente e fazendo o melhor que eu posso, sempre. Com muita verdade, com muito respeito.

Por Horácio Brandão – Midiorama


Deixe seu comentário


Envie sua matéria


Anexar imagem de destaque